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terça-feira, 1 de setembro de 2009

O resfriamento das relações e a racionalização do amor

Bonito título, não? Parece até tema de dissertação de mestrado. Mas não é. É apenas uma reflexão de alguém que já está cansado de ver isso acontecer.

Algumas vezes na vida ouvi que entregar-se de corpo e alma a um amor, dedicar-se integralmente a ele, é pura besteira; ocupa nosso tempo, nos faz jogar nossa vida fora e não traz benefício algum no fim das contas. De fato; muitas vezes, o relacionamento não dá certo, e acabamos com a sensação de que aqueles momentos que separamos exclusivamente para ele foram em vão. Não devemos, então, nos prender a uma pessoa, e sim sermos livres para ir e fazer o que nos der na telha; afinal, em nada contribuirá para a nossa formação aqueles períodos "inúteis" de nossa vida, não é mesmo?

Ora, mesmo que isso seja verdade, é um conhecimento que não se pode passar de geração para geração. É um conhecimento que deve ser apreendido do convívio, das situações pelo qual passamos ao decorrer dos nossos dias. Não é questão de "cometer os mesmos erros dos meus pais", ou coisa parecida. É questão de ser... um ciclo! Todos nascemos, crescemos, nos relacionamos, nos reproduzimos, envelhecemos e morremos. O que move o homem não são as respostas; são as perguntas. É a sua curiosidade de conhecer, de aprender, de vivenciar. Como pode, então, um adolescente de 17, 18 anos dizer que "já viu tudo, não tem nada mais para aprender, já é maduro o suficiente para dizer, com toda a certeza, que amar é uma bobagem. Que se relacionar não traz benefícios; é puro desejo, é puro capricho de nossos corações."? Isso não existe. É pura soberba, é puro egoísmo, pura vaidade.

O amor não é uma substância que compramos em farmácia e tomamos. Amor não é, tampouco, uma flechinha que nos é atirada por um anjo de fraldas. É um sentimento, e quando eu digo sentimento, quero dizer que não faz parte da racionalidade. Dizem que o amor é cego, mudo e surdo exatamente por isso; ele vai contra todos os dogmas, todos os preconceitos, todas as implicações que um olhar científico imprime. "Amor é pra sentir, não pra entender", já dizia o poeta. Se racionalizarmos o amor, não teremos filhos com aqueles pelo qual realmente temos apreço, e sim com aqueles que nos pareçam mais "aptos a sobreviver", ou que nos pareça "a decisão mais lógica", etc.

Mas mais soberba e vaidade ainda é achar que podemos ser felizes sozinhos. O ser humano não é assim. Essa não é a nossa natureza. Desde pequenos, precisamos de figuras próximas de nós para tudo; seja para nos alimentar, nos dar apoio emocional, educativo, psicológico, compartilhar e discutir ideias e opiniões. Esse papel é feito pela nossa família e pelos nossos amigos. Mas há sempre aqueles com quem nos identificamos mais, que são mais próximos de nós; a esses, chamamos de melhores amigos, pois são eles que estão do nosso lado, entendem como nos sentimos e dão ótimos conselhos para as dificuldades que enfrentamos na vida. E no meio desse grupo, há sempre um que nos cativa mais que os outros. Seja por ele ser mais verdadeiro, ou mais carinhoso, ou mais atencioso, ou mais inteligente, ou mais - por que não? - bonito. Para com esse temos um sentimento ainda mais profundo, criaremos uma relação ainda mais estreita. A isso damos o nome de amor. E é esse valor que está se perdendo hoje em dia, seja pela incredulidade de nossa geração ou mesmo pela falta de interesse nele. O que "tá na onda" hoje em dia é "ficar" - namorar é super careta, bicho.

E isso nos traz à reflexão: o que leva uma pessoa a ter essa visão de mundo? O que leva uma pessoa a não acreditar no amor, ou julgá-lo não essencial para a plena felicidade de si ou de outrem? Uma decepção amorosa muito forte, talvez? Medo de não gostar - ou até mesmo de gostar e sentir-se fraca, impotente diante daquele sentimento que a controla, e não o contrário? São todas divagações que podemos fazer. Mas uma coisa é certa: enquanto essa pessoa não abrir a mente, enquanto ela permanecer sempre no seu mesmo mundinho enclausurado, egoísta e boçal, e enquanto achar que o resto do planeta gira em torno de si e de suas ideias (que, por sinal, julga serem absolutas), ela jamais sentir-se-á satisfeita, feliz e completa.

E tenho dito.

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